Qual é o papel do facilitador na criação de um ambiente favorável ao erro?

Nunca se falou tanto sobre aceitar o erro e até buscar o erro dentro de organizações. Afinal de contas, quem nunca assistiu uma palestra em que um(a) gestor(a) sentencia com orgulho: “Na minha organização, erramos rápido para aprender rápido”. Mais do que um jargão da moda, a dinâmica ágil e volátil do mundo de hoje está exigindo cada vez mais um novo mindset das empresas e suas diversas áreas quando o assunto é erro. Assim, é natural que os gestores se deparem com duas perguntas fundamentais:

Como criar equipes que aceitem o erro de maneira positiva?

É possível a criação de um ambiente ou estrutura dentro das empresas onde seja possível errar e aprender, dadas as pressões de tempo e recurso que vivemos?

Hoje, aceitar o erro é a base para diversas abordagens de gestão, principalmente em áreas criativas ou dirigidas à inovação (processos de prototipações, iterações, pivotagens, design thinking, etc.).

A lógica destas abordagens tem elementos em comum: Testar no mundo real e com pessoas reais, uma ideia em desenvolvimento. Ainda que a ideia não esteja pronta no papel, os feedbacks deste teste farão com que o produto ou serviço seja finalizado e melhorado continuamente. Diversas pesquisas também atestam a relação entre aprendizado a partir do erro e melhor tomada de decisão de líderes, entretanto esta tarefa é feita com dificuldades na maioria das organizações.

Para abordar essas questões, há a necessidade de entender duas resistências ao erro, uma pessoal (mudança de mindset dos colaboradores) e uma organizacional (ambiente e estrutura da empresa). Vamos a elas!

Pessoal

O convite ao erro e ao aprendizado, nos tempos atuais, é novidade para muito da força de trabalho existente. Em grande maioria, fomos educados a evitar o erro, prevenir qualquer deslize e ter controle sobre tudo que for possível – em casa ou no trabalho. E assim seguimos, tentando ao máximo acertar e esconder nossos erros, fragilidades e falhas. Sendo assim, não é de se esperar que todos lidem tão bem com o erro, nem que saibam extrair aprendizado dele, e não uma busca incessante por culpados e punições.

Organizacional

As estruturas organizacionais dificilmente estão adaptadas tanto a lidar com o erro, quanto a colher aprendizados deles. Os estímulos da estrutura (remuneração variada, colaboração entre equipes, fluxo de reuniões, etc.) geralmente caminham na direção oposta do erro. Geralmente, há pouco espaço para se discutir e aprender com os erros, e nenhum incentivo para que isso seja feito de maneira estrutural. Raras são as equipes que tem em sua rotina uma parada ou uma forma de listar erros, analisa-los e extrair aprendizados.

Naturalmente ambas dimensões estão conectadas: Pessoas não preparadas para lidar com o erro geram organizações que não tem estruturas para crescer por meio de seus erros. Mas, dentro desta lógica, qual é o papel do facilitador, como ele pode ajudar pessoas e organizações a extraírem mais aprendizado a partir de seus erros?

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PAPEL DO FACILITADOR

O papel fundamental do facilitador é o de criar os ambientes de confiança, onde o erro possa ser discutido, interpretado e fazendo com que haja evolução de todos. Isso ocorre a partir do fortalecimento de laços entre os membros de uma equipe ou colaboradores de uma área, para que se sintam à vontade de expor seus erros e investigá-los em conjunto. Mas essa não é tarefa simples, já que isso envolve a necessidade de um grupo de trabalho maduro e que lide bem com a exposição de falhas individuais, transformando-as em um processo coletivo de aprendizado.

Então, como a falha de um pode virar o aprendizado de todos? Um bom facilitador trabalha no desenvolvimento de três atitudes necessárias para um grupo amadurecer neste aspecto:

1) Olhar do Cientista (Entender o erro)

O facilitador estimula o grupo a exercer uma abordagem do raciocínio científico, ou seja, qualquer resultado (seja sucesso o ou falha) é um resultado válido e deve ser interpretado. Ele mostra claramente quehá espaço para aprendizado em qualquer um dos cenários. Para a análise científica não há resultado positivo ou negativo, há simplesmente resultado e uma metodologia clara para gerar resultados confiáveis.

O facilitador pode estimular este mindset dentro de um grupo, propondo dinâmicas investigativas, verdadeiramente dissecando desafios e erros e afastando o sujeito do resultado, lidando com os dados e percepções de um olhar analítico. Dinâmicas de mapeamento de processos, avaliação sistêmica de algum resultado ou diagnósticos de causa são alguns exercícios importantes para estimular esta atitude coletiva e propositiva frente aos erros.

2) Vulnerabilidade (Aceitar o erro)

O facilitador explora o amadurecimento do grupo na capacidade de expor um erro, criando um campo de confiança entre todos de que aquele é um local seguro para demonstrar pontos a desenvolver e discutir sobre eles, como grupo. A aceitação ao erro é algo bem mais relacionado ao campo emocional do que racional, e é também nesse ponto que o facilitador pode contribuir.

Para este objetivo é indicado inicialmente um trabalho individual, de reflexão sobre como cada membro do grupo lida com suas falhas, seguido de diversas ferramentas de diálogo que podem criar a coesão de grupo necessária para que cada indivíduo evolua e aceite com mais tranquilidade erros e, assim, fortaleça laços de confiança entre todos. O trabalho de facilitação, ao contrário do ponto anterior, tem um caráter mais sutil e explora elementos da emoção e sentimentos, não só a capacidade analítica do grupo para lidar com erros.

3) Criar próximos passos (Construir com o erro)

O facilitador conecta os erros à prática e ao contexto que o grupo está envolvido, apoiando-o para gerar soluções e mudanças de curso por meio de ações práticas. Esta etapa do trabalho pode ser realizada convidando outros stakeholders envolvidos, a fim de fomentar ações mais conectadas com a realidade da organização e evitar uma leitura viciada do grupo.

Para este momento são indicadas a facilitação de sessões de brainstorm, prototipação ou geração de ideias para que haja um processo de melhoria a partir do que foi feito anteriormente. Ao fazer isso, o facilitador implicitamente trabalha o fortalecimento do olhar propositivo e construtivo para qualquer falha, conectando o grupo com outros atores envolvidos.

Por fim…

Naturalmente o desafio de implementar um ambiente favorável ao erro passa por um trabalho consistente de facilitação de reuniões, projetos e interações entre o grupo, até que tais hábitos sejam internalizados e as atitudes desenvolvidas pelos membros. O facilitador busca assim criar não uma interação marcante, mas uma sequência de estímulos na equipe para que consigam criar um ambiente de confiança e propositivo para os possíveis erros, aprendendo e se desenvolvendo com eles.